Ergonomia Eficaz: Reduzindo a Incidência de Adoecimento com Foco nos Movimentos Críticos

Ergonomia Eficaz Reduzindo a Incidência de Adoecimento com Foco nos Movimentos Críticos

Segundo Dr. Nadion Rogério Indalêncio, a ergonomia é uma disciplina que visa adaptar o ambiente de trabalho e o posto de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, com o objetivo de promover a saúde, segurança, conforto e produtividade nas tarefas laborais. Ela desempenha um papel fundamental em todos os setores produtivos da sociedade, incluindo a indústria, a agricultura, a saúde, o comércio, chegando até ao design de produtos para utilização humano e muita mais.   

A ergonomia didaticamente pode ser dividida em Ergonomia Física que se preocupa com o funcionamento orgânico do ser humano, avalia os movimentos, as posturas, as movimentações de carga a repetitividade e muitos outros itens. A Ergonomia Cognitiva se preocupa com a relação mental e emocional do trabalhador e esta relação com o trabalho. A Ergonomia Organizacional que é toda prática da empresa relacionada a ética, comunicação, gestão de qualidade dos processos para trazer benefícios a saúde dos profissionais e melhorar o clima interno. 

A ergonomia física que é a linha deste artigo e que se refere as questões biomecânicas, tem como princípios a avaliação: das posturas de trabalho, dos movimentos críticos, da repetitividade e da movimentação de carga.

Neste artigo o foco será os movimentos críticos em uma atividade laboral, que são os maiores causadores de adoecimentos relacionados ao trabalho.

Nas atividades laborais existem posturas variadas e movimentos variados, porém alguns movimentos adotados pelos trabalhadores trazem alto risco de adoecimento, sendo considerados movimentos críticos.

Tais movimentos não são comumente divulgados, mas neste artigo aborda-se alguns destes que sendo evitados, reduzem o risco laboral de maneira surpreendente. A sequência abaixo é meramente didática, não sendo classificado por prioridade ou gravidade, visto que todos devem ser evitados e também existem outros, mas pela brevidade de apresentação do artigo este não comporta todos.

Abdução de ombro. Este movimento para quem não conhece, é uma elevação lateral do ombro, onde após 90° para maioria das pessoas, gera uma compressão entre o tendão do músculo supraespinhal, a bursa subacromial e o acrômio, que é um acidente ósseo da escápula. Este impacto ocorre em uma área do tendão chamada zona crítica, onde sua vascularização é reduzida, gerando assim possibilidade de tendinite do tendão do supraespinhal e bursite subacromial. Algumas pessoas apresentam a curvatura do acrômio com formatos diferentes. Bigliani et al. propuseram um sistema de classificação para o acrômio após estudo com 140 ombros de cadáveres humanos. Eles identificaram três tipos de acrômio: reto (tipo I), curvo (tipo II) e ganchoso (tipo III). Quanto mais curvo for o acrômio, maior é a probabilidade de diminuição do espaço subacromial, com consequente desenvolvimento da Síndrome do Impacto e das Lesões do Manguito Rotador. Em um estudo realizado no Brasil por Cardinot et al, de 112 escápulas analisadas foram encontradas 54 (48,2%) do tipo I (plano), 53 (47,3%) do tipo II (curvo) e 5 (4,5%) do tipo III (gancho). A análise de 112 escápulas humanas secas mostrou que o tipo acromial de maior incidência em brasileiros são os tipos I e II. O tipo III apresentou uma ocorrência muito pequena na amostra estudada. Neste pensamento sabe-se que o que muda é o espaço para passagem das estruturas, sendo maior no tipo I que é plano, onde o impacto ocorre em torno de 90° e 100°, no tipo II que é o mais comum, acrômio tipo curvo, o impacto ocorre entre 80°e 90° e no tipo III ou ganchoso, onde a compressão ocorre em torno de 70° e 80°. Claro que estes ângulos variam entre os autores, mas como não sabemos o tipo de acrômio dos funcionários o ideal é manter tal movimento sempre abaixo de 70°. É possível realizar exames de RX em exames admissionais para identificação de tipos de acrômio, mas acredito seja muito mais coerente e barato corrigir as posturas de trabalho para evitar tal movimento.

Os acrômios também foram classificados de acordo com o modelo proposto por Bigliani et al.

Flexão de Tronco acima de 60° sem cargas ou acima de 40° com cargas – Tais movimentos trazem uma importante sobrecarga para coluna lombar e estas podem levar a microlesões ou até mesmo lesões nos discos intervertebrais e este podem se deteriorar levando a protrusões ou hérnias discais com o passar o tempo, lesões musculares, lesões ligamentares e até compressões nervosas. Normalmente os problemas não ocorrem em um único movimento, porém associado a repetição, aumentam processos degenerativos e podem trazer crises a trabalhadores que já tenham pequenas lesões. Desta forma eliminar estes movimentos e fundamental para reduzir os riscos de adoecimentos para coluna lombar.

Desvio ulnar do punho acima de 25° traz sobrecarga importante para o punho, principalmente para o abdutor do polegar, podendo gerar uma tendinite chamada doença de Quervain.

Desvio ulnar do punho

Esforços com os dedos em pinça -Tais movimentos são muito comuns em atividades de montagem de pequenos componentes, separação de pequenos componentes e diversas outras atividades de produção. Podem levar a tendinites e tenossinovites dos flexões dos dedos e devem ser evitadas.

Pronações e supinações com cargas – Estas podem movimentações são comuns em atividades que envolvam torcer por exemplo. É quando se realiza o movimentação da mão virando a palma para cima ou para baixo. Apesar destes movimentos parecerem ser nas mãos eles ocorrem a nível de cotovelo e quando muito repetidos com esforços podem levar a epicondilites laterais (não sendo esta a única causa).

Existem outros movimentos que podem levar a doenças ocupacionais, porém estes são comuns e evitando tais movimentos preserva-se a saúde dos trabalhadores. Para Dr. Nadion Rogério Indalêncio um ergonomia com uma boa capacitação faz a diferença nos ambientes de trabalho.

Referências

BIGLIANI, LU, MORRISON, DS, April EW. The morphology of the acromion and its relationship to rotator cuff tears. Orthop Trans. 1986;10:228.

CARDINOT, TM. et al. Tipo acromial de brasileiros: Estudo em escápulas humanas. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 03, Vol. 06, pp. 17-28. Março de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/tipo-acromial-de-brasileiros

PASCHOARELLI, LC, MENEZES, MS., Design e ergonomia: aspectos tecnológicos [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 279 p. ISBN 978-85- 7983-001-3. Available from SciELO Books . https://books.scielo.org

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